Na manhã de 9 de agosto, veio à tona (a partir do monopólio de imprensa Uol) a informação de que um grande desfile militar ocorreria em frente ao Palácio do Planalto no dia 10/08. A data da grande exibição militar marcava a votação da PEC do voto impresso pela Câmara de Deputados. O presidente da Câmara, Arthur Lira, incluiu a questão na pauta mesmo após a proposta ser rejeitada na Comissão Especial por 22 votos a 11. 645546
A exibição militar ocorreu em frente ao Palácio do Planalto e percorreu a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, com um comboio de veículos blindados, incluindo tanques de guerra e lança-mísseis.
Na cerimônia, convites foram entregues para que Jair Bolsonaro e Braga Netto compareçam à Demonstração Operativa a ser realizada no próximo dia 16/08. A Demonstração, por sua vez, marcará o início da Operação “Formosa”, que é um dos maiores treinamentos militares empregando grande recurso material das Forças Armadas reacionárias.
O contexto
O evento tomou grande proporção justamente pelo fato de ocorrer em meio à grave crise militar desatada a partir de ameaças abertas feitas pelo ministro da Defesa, Braga Netto, e das defesas abertas feitas por outros generais que vão no mesmo sentido: legitimar as eleições em 2022 apenas se realizadas com o voto impresso.
Em 01/08, manifestações esvaziadas foram realizadas pela extrema-direita no mesmo tom: exigir votos impressos.
O mês de agosto marca também o fim do recesso do parlamento. É ali que se desenrola a chamada I da Covid, que tem apontado para o governo militar a principal responsabilidade na mortandade imposta ao povo durante a pandemia do novo coronavírus.
O ‘cortejo de Newton Cruz’
O colunista Lauro Jardim, d’O Globo, escreveu que o desfile “não faz o menor sentido prático”. Ele segue afirmando que “bastaria um militar entregar o convite em seu gabinete, sem a fanfarra intimidatória na véspera de a PEC do voto impresso ser votada pelo Congresso”.
Após chegar até a relação política que motivou o evento militar, o colunista do monopólio de imprensa carioca relembrou o episódio em que Newton Cruz, general alinhado à extrema-direita que nos anos 1980 se opunha à linha da direita militar no final do regime militar-fascista de “abertura lenta, gradual e segura”. Naquela ocasião, Newton Cruz era Comandante do Exército e promoveu um desfile com 6 mil militares e 116 tanques. O evento ocorreu às vésperas da votação de uma Emenda (a Dante de Oliveira) que visava restabelecer eleições diretas.
Os que julgam inusitado
A matéria da revista do monopólio de imprensa Veja, de Robson Bonin, afirma que “interlocutores da cúpula do Exército” (nunca nomeados…) “classificam de ‘totalmente inusitado’ o desfile”. Apesar de que segue a mesma colocação de afirmar que o convite ao presidente fascista Bolsonaro poderia ser enviado “até por e-mail”, o artigo repercute a fala de um militar (também não identificado) que afirma que se trata (o desfile da véspera da votação sobre voto impresso) de “coisa da Marinha com o Braga Netto”. O militar não identificado confirmou que não haverá participação de nenhum militar do Exército.
A matéria afirma, também, que será o segundo movimento de exibição de força protagonizado por Braga Netto somente no mês de agosto. O ministro da Defesa acompanhou pessoalmente um exercício de uma divisão especializada em intervenção federal que compõe o Comando Militar do Leste (CML).
O caos e o temor
Não é surpreendente que só agora os monopólios de imprensa corram para constatar o que o AND já de muito vem denunciando e alertando aos seus leitores: os dois possíveis desfechos para a atual crise. Uma delas sendo as “diretrizes pelo ex-comandante do Exército reacionário Villas-Boas: ‘atuar com legalidade, legitimidade, estabilidade’, tudo pelo cumprimento de três tarefas reacionárias” e, em último caso, a depender do agravamento da crise geral, do início de uma Revolução e da correlação de forças com a extrema-direita no seio das tropas, romper a ordem para alcançar um novo regime demoliberal mais reacionário. Já a outra, é o caminho da extrema-direita de “precipitar o caos enquanto [Bolsonaro] for mandatário, para que ele possa encabeçar o inevitável processo no qual desembocará a nação, mais tempo, menos tempo: o regime militar-fascista”.
Os acontecimentos mais recentes na situação nacional indicam que cresce a possibilidade de convergirem taticamente (a médio prazo) ambas as forças reacionárias (direita militar e extrema-direita) no questionamento da ordem legal para decidirem, em outras condições, qual a natureza do regime em substituição ao atual. Daí que precisaram se debruçar sobre o fato.