Enquanto a Polícia Militar (PM) de São Paulo levou terror aos moradores da Favela do Moinho, no centro da cidade, em mais uma operação de despejo hoje (14/05), o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou de um evento pomposo em Nova York, nos Estados Unidos, para apresentar o trabalho “Projeto de Brasil” a vários executivos e investidores do capital estrangeiro. 625h58
No evento, ele falou sobre projetos de concessões e de parcerias público-privadas (PPPs) para os bilionários norte-americanos. O governador envolvido no despejo de famílias pobres planeja construir um prédio para ser a nova sede do governo na cidade de São Paulo, um túnel imerso entre Santos e Guarujá e centros de dados – imensos estabelecimentos usados para processar dados e concentrar sistemas computacionais de uma empresa ou organização, como um sistema de telecomunicações ou um sistema de armazenamento de dados.
Tarcísio participou do encontro Diálogos Esfera, promovido pelo autoproclamado “apartidário e independente” grupo Esfera Brasil, e de reuniões com executivos de grandes mineradoras, empresas de investimentos e bancos, como parte da “Brazil Week”, evento vende-pátria organizado entre os dias 11 e 15 de maio pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, e que também conta com a participação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan.
O governador evitou falar das eleições de 2026, mas está claro que a ida até Nova York e as propostas do “Projeto de Brasil” são um ensaio para sua tentativa de apresentar-se como um possível sucessor de Bolsonaro que faça a “ponte” entre a direita tradicional, os bolsonaristas e a extrema direita. A propaganda tem funcionado: Tarcísio foi “saudado como candidato ao Planalto” por empresários que estavam no evento, segundo a jornalista do Estadão Aline Bronzati.
A mesma movimentação foi feita recentemente por Tarcísio na Agrishow, uma feira importante para latifundiários organizada no final de abril em Ribeirão Preto. O governador reacionário anunciou na feira um pacote de mais de R$ 600 milhões em investimentos para o “agronegócio” (latifúndio com nova roupagem), exaltando o setor como “a locomotiva do Brasil” – mesmo que em São Paulo, somente em 2024, tenham sido resgatados 357 camponeses em trabalho escravo no campo, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (T).
Questionado em Nova York sobre a possibilidade de uma direita sem Bolsonaro, Tarcísio foi taxativo: “não, não existe”. A fala não é mero gesto de lealdade, mas parte de um movimento ambíguo e calculado que visa absorver e arrebatar as bases do bolsonarismo, tanto moderado quanto radical, para uma possível candidatura presidencial em 2026. Paralelamente, ao defender a ideia de que o País precisa de um “projeto”, não de pessoas, Tarcísio tenta se desvencilhar da radicalização golpista gerada pela imagem desgastada de Bolsonaro sem perder o apoio da ala mais radical de seus seguidores.
A resposta de Tarcísio também foi uma crítica indireta a outras figuras da direita tradicional, como Michel Temer (MDB), que buscam ressuscitar uma “terceira via de centro-direita” sem Bolsonaro e, consequentemente, incapaz de unir e mobilizar toda a base de massas bolsonarista. A negação de sua candidatura pessoal soa cada vez mais como encenação, enquanto constrói pontes com o capital financeiro e o latifúndio, e tenta apresentar-se como o herdeiro “viável” de Bolsonaro.
Guerra contra o povo 415fc
O eio luxuoso de Tarcísio para os Estados Unidos (EUA) ocorre em meio à brutal repressão dos moradores da Favela do Moinho, local que, desde o início desta semana, tem sido palco de uma brutal ofensiva repressiva conduzida pela Polícia Militar (PM), com apoio de tropas de choque, caveirões, cães farejadores e agentes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
O objetivo declarado é demolir casas e “descaracterizar” moradias consideradas “vazias”, com base numa ação de reintegração de posse da CDHU, parte da guerra declarada contra o povo com a repressão sistemática e criminalização da pobreza, da luta por moradia e pelos direitos do povo em geral.
Revoltados com o descaso e o terrorismo imposto pelas forças repressivas de Tarcísio e seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, os moradores do Moinho estremeceram a capital paulista e bloquearam ontem (13/05) a linha de trem 8-Diamante, num combativo protesto contra a ação da CDHU.
Os abusos brutais cometidos pela PM e o Choque geraram intensa comoção e solidariedade em todo o País, obrigando a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) a suspender a cessão do terreno ao governo paulista. Tal medida, no entanto, em nada revela qualquer comprometimento real do governo federal com a luta por moradia. A própria União segue permitindo, legitimando e participando de diversas operações de despejo e repressão a favelas e ocupações em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outros estados do País. O recuo em relação ao Moinho se deu principalmente pela ampla solidariedade popular que se ergueu em todo o Brasil, denunciando a repressão brutal imposta por Tarcísio/Derrite.
Mesmo assim, a operação de guerra segue inabalável. Nesta quarta-feira (14/05) a Favela do Moinho amanheceu sob cerco policial, sitiada por viaturas da Polícia Militar (PM) e com um caveirão do Batalhão de Choque bloqueando o único o, proibindo os jornalistas de entrarem no local. À tarde, as forças policiais deram prosseguimento à ação da CDHU com a remoção das casas. Os moradores seguem com a rebelião popular e, hoje, esticaram uma faixa pintada com a frase “Lula, tire a PM do Tarcísio do seu terreno!”.
A remoção da Favela do Moinho e a visita de Tarcísio aos Estados Unidos são duas coisas que andam juntas, pois estão vinculadas ao projeto de despejo em massa do povo pobre para instalar megaprojetos em benefício de grandes empresários. O despejo do Moinho, por exemplo, está ligado ao projeto de Tarcísio para a instalação do novo Centro istrativo nos Campos Elíseos, na região central. Trata-se de uma política de guerra contra o povo pobre em nome da “requalificação urbana” e dos interesses do mercado imobiliário, liberando terreno para o avanço da especulação.