Residentes de nutrição e enfermagem do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), realizaram uma manifestação que bloqueou parcialmente a Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro. Com apoio dos demais funcionários, médicos e enfermeiros, eles denunciaram os ataques da gerência estadual de Luiz Fernando Pezão/PMDB a Uerj, que causa sérios danos ao funcionamento do hospital. 585y4d
Fábio Gonçalves
Protesto em frente ao Hospital Universitário denuncia precarização, abril de 2017
Na ocasião, os profissionais de saúde também denunciaram que estavam há dois meses com as bolsas de residência atrasadas. Eles carregavam cartazes com as frases Residência não é voluntariado!, Trabalhamos 60h por semana, queremos nossas bolsas! e Amar a profissão não significa gostar de trabalhar de graça!.
Um dia antes, a reportagem de AND foi até o Hupe e conversou com funcionários e pacientes, que nos relataram a grave situação e o descaso com a saúde pública por parte das “autoridades” do velho Estado.
Os trabalhadores disseram que, desde dezembro de 2016, estão sofrendo com a deterioração das condições de trabalho e os constantes atrasos no pagamento dos salários, como foi o caso dos técnico-istrativos, que só receberam o salário integral relativo ao mês de agosto no dia 29 de setembro.
— O Pedro Ernesto está funcionando graças ao trabalho do pessoal que, mesmo nessa situação, mesmo sem receber direito, continua fazendo os atendimentos – afirmou a aposentada Maria do Carmo, que tem uma filha paciente no hospital.
Desde a metade de 2017, o Hupe teve ainda mais restrição nas consultas, internações, cirurgias eletivas e exames ambulatoriais, sendo que, ainda no mês de junho, somente 200 dos 512 leitos do hospital estavam funcionando, situação que começou a mudar lentamente a partir de agosto, quando alguns leitos foram reativados.
O hospital – que é reconhecido como uma referência em transplantes, quimioterapia, radioterapia, cirurgia cardíaca, hemodiálises, maternidade de alto risco, pediatria – foi forçado a fechar salas em boas condições por conta da falta de ree do gerenciamento estadual.
— Nós temos dedicação exclusiva, portanto, não podemos ter nenhum outro tipo de vínculo. Temos aqui um pessoal altamente competente e temos pacientes que precisam de nós. E, sem receber, acumulamos dívidas e alguns não conseguem vir para o hospital. No primeiro semestre de 2017, funcionamos com praticamente 50% de nossa capacidade apenas. É uma situação complicadíssima – denunciou uma residente, que preferiu não se identificar.
Em vídeo de denúncia amplamente divulgado nas redes sociais em julho deste ano, um funcionário, identificado como Eugênio, que afirmou trabalhar no Hupe há 26 anos, desabafou: “Nós, como servidores do estado, estamos ando por uma situação, como todos vocês sabem, mas, mesmo assim, não deixamos de atender esses pacientes, que só têm a gente mesmo, porque, se depender do poder público, eles vão morrer muito mais cedo, como de fato já está acontecendo, independente da nossa vontade”.
A crise no Hupe é parte da tentativa de Pezão de ass a Uerj. Em 24 de outubro, a justiça determinou um arresto de R$ 63 milhões nas contas do governo estadual para que o dinheiro seja destinado ao pagamento do 13º salário dos servidores da Uerj, que deveria ter sido efetuado em 2016. Esse arresto, no entanto, foi suspenso pelo judiciário no dia seguinte, a pedido da gerência estadual.
Saúde em luta no Rio
Diante da crise e da calamidade em que se encontra o estado, no início de outubro foi anunciado, por determinação da lei 7.701/2017, que os médicos do Hupe terão suas cargas de trabalho reduzidas de 40 para 24 horas. Longe de ser uma bondade do governo, foi efetivada pela luta destes médicos e pela exigência dos usuários por uma saúde de qualidade.
Enquanto o conjunto daqueles que fazem o Hupe funcionar prossegue sua luta, outros servidores da saúde do Rio de Janeiro fazem igual, como os municipais.
No dia 26/10, em audiência pública que iria definir o orçamento de 2018 para a saúde municipal, manifestantes foram proibidos de entrar na Câmara e enfrentaram seguranças e a polícia. Entre as organizações presentes, estava o Movimento Classista em Defesa da Saúde do Povo.
Na mesma data, os 1.290 médicos que atuam em 227 unidades básicas de saúde da cidade (clínicas da família e centros municipais de saúde) entraram em greve.