Uma videoconferência realizada pelo exército no dia 9 de outubro ado, dirigida a 2.000 oficiais temporários da reserva – R/2, teve como ponto alto as declarações do comandante do exército, general Eduardo Villas Bôas. Mudando o tom de declarações anteriores nas quais descartava qualquer possibilidade de intervenção militar, o general afirmou que “Estamos vivendo situação extremamente difícil, crítica, uma crise de natureza política, econômica, ética muito séria e com preocupação que, se ela prosseguir, poderá se transformar numa crise social com efeitos negativos sobre a estabilidade. E aí, nesse contexto, nós nos preocupamos porque a a nos dizer respeito diretamente”. 12277
Na abertura do XVII Encontro Nacional de Oficiais da Reserva do Exército, realizado em Vila Velha, Espírito Santo, o presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva, tenente R/2 Sérgio Pinto Monteiro, destacou que “O nosso país vive dias difíceis, onde ameaças difusas estão presentes no cenário nacional. Maus brasileiros, diuturnamente, violam os princípios éticos, morais e cívicos que forjaram a nacionalidade. As forças armadas, organismos do Estado brasileiro, talvez sejam um dos últimos redutos onde se praticam estes valores e atributos em toda a sua pujança”. E, finalizando, deixou como mensagem final de sua saudação ao encontro a disposição dos tenentes R/2, afirmando: “Exército brasileiro! Os tenentes estão de volta, prontos! Dê-nos a missão!”.
As duas declarações lidas em suas entrelinhas são reveladoras do zum-zum-zum que corre, principalmente nas redes sociais, sobre a possibilidade de uma intervenção militar, com destaque para o frisson entre as viúvas do regime militar fascista. Tanto assim que o Estadão, destacado porta-voz da grande burguesia pró-imperialista, se adiantou na procura de colocar panos quentes na situação declarando, em editorial do dia 15 de novembro, que as vivandeiras de quartel não encontram eco na tropa para aventuras golpistas. Declaração típica do estilo Estadão para o qual seus editoriais devem ser recebidos como editos imperiais.
O exército como medula do Estado 1t3c4l
Com o surgimento da sociedade de classes e sua divisão entre dominantes e dominados, surge também o Estado como o organizador da dominação, a qual se realizará através de uma força armada, o exército, que se afirma como a medula do Estado. Historicamente, o Estado escravista tinha o exército a serviço dos senhores; o Estado feudal tinha um exército a serviço da nobreza; o Estado burguês tem o exército garantindo os privilégios da burguesia; assim como, no Estado sob a Ditadura do Proletariado, como foi o caso da Rússia (logo União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e da China antes dos respectivos golpes das camarilhas revisionistas para restaurar o capitalismo (1956 na URSS e 1976 na China Popular), os Exércitos Vermelhos serviram ao proletariado e ao estabelecimento e defesa de seu poder. Enquanto houver Estado, portanto, seja qual for a sua coloração ideológica, terá sempre a força armada na finalidade da manutenção da ordem estabelecida pela superestrutura política vigente, ou seja, esta força armada reflete o caráter de classe do Estado. E nisto tanto o Estado proletário como o seu exército diferenciam-se qualitativamente dos Estados e exércitos das formações sociais anteriores, escravista, feudal e capitalista.
No caso do Brasil — sendo o Estado brasileiro um Estado semicolonial-semifeudal —, suas forças armadas surgiram como capitães do mato para defender a propriedade e os interesses dos senhores de terras e grandes comerciantes. Foram adestradas nas práticas genocidas levadas a termo contra os levantamentos da resistência indígena e do povo preto contra a escravidão, contra as rebeliões populares independentistas, os levantamentos camponeses (como os de Canudos e Contestado) e na guerra da Tríplice Aliança (massacre da nação paraguaia). Consolidou-se na repressão às lutas operárias e camponesas e aos levantamentos revolucionários da jovem oficialidade — Movimento Tenentista e Coluna Prestes — contra os regimes e governos antipovo, vende-pátria e corruptos da Velha República, bem como na repressão sangrenta contra toda e qualquer luta democrática, principalmente contra as lutas pela Revolução Democrática, servindo invariavelmente de tropas internas do imperialismo ianque de ocupação da própria pátria. Em sua história, estas forças armadas nunca tomaram parte de qualquer movimento progressista, reprimindo todas as manifestações democráticas e progressistas em suas fileiras. O único evento democrático e progressista de participação da instituição foi na participação na Segunda Grande Guerra ao lado dos Aliados, ainda sim por pressão do povo brasileiro e através da conformação de uma outra unidade militar, a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Enfim, segue reproduzindo o mesmo caráter de classe do Estado, ou seja, burguês-latifundiário serviçal do imperialismo, principalmente ianque.
Uma breve pesquisa em nossa história é suficiente para constatar que as intervenções militares sob o domínio semicolonial inglês atendiam fundamentalmente os interesses da Inglaterra (veja-se, por exemplo, a Guerra do Paraguai) e, quando amos a sofrer o domínio semicolonial do USA, a ação militar ou a ser ditada e orientada para garantir os privilégios ianques em nosso país (vejam-se os sucessivos golpes praticados em 1930, 1945, 1954 e 1964).
Na história também veremos que, embora a instituição militar seja constituída de forma monolítica, ela não está infensa à luta de classes. Quando no Império a instituição respaldava a nobreza, parte de sua oficialidade, ouvindo o clamor das ruas, proclamou a República. Durante a chamada República Velha, enquanto o exército respaldava a oligarquia latifundiária, a jovem oficialidade, desfraldando aspirações democráticas e nacionais, ainda que imprecisas e difusas, aponta as armas contra seus generais em movimentos que ficaram célebres, como os dois “5 de Julho”, o de 1922 do Levante do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, conhecido como “Os Dezoito do Forte”, e o de 1924 da Revolução de São Paulo. Rebelião derrotada e cujas forças militares se retiraram para o interior como Coluna Miguel Costa para dar continuidade à revolução. Unido-se à Coluna Prestes, nascida do Levante Gaúcho, dando origem à Coluna Miguel Costa-Prestes e, posteriormente, Coluna Prestes ou Coluna Invicta. Esta, como o maior e mais importante movimento revolucionário do país, percorreu 36 mil quilômetros em 2 anos e meio, varando do Sul ao Norte/Nordeste, cruzando o Centro-Oeste, e derrotou 18 generais das várias investidas das tropas reacionárias legalistas, apoiadas por bandos de cangaceiros e jagunços, fazendo justiça ao povo.
Estes episódios, desenvolvidos durante a década de 20 do século XX, aram à história com a denominação de “Tenentismo”, movimento que se dividiu, ao fim da heroica marcha, entre uma ala esquerda sob a liderança de Luís Carlos Prestes e uma ala direita que, ao se compor com parte da oligarquia, conformou-se na Aliança Liberal, com Getúlio Vargas à frente, que acabaria por trair o ideário nacional-democrático do movimento com o golpe de 1930 e logo viria o regime fascista do Estado Novo.
Grotesco, risível, mas preocupante 5l26d
Aproveitando-se da tremenda insatisfação popular com o desgoverno do oportunismo petista, está em curso uma campanha de desinformação com vídeos de certos gorilas babando e esbravejando contra um comunismo embutido em suas cabeças pela Escola das Américas, centro de formação de militares e de treinamento das técnicas de torturas montado pelo USA para a doutrinação dos militares das Américas segundo as diretrizes da “guerra fria”.
Mais uma comprovação de que PT e PSDB são farinha do mesmo saco como membros do Partido Único, é que nenhum dos dois se dignou a sequer cogitar em mudar a doutrina militar herdada da “guerra fria”. Fazê-lo seria chocar-se com interesses ianques os quais juraram respeitar e manter. O pior de tudo é que, nestes tempos de “Estado democrático de direito”, nada foi feito para mudar a formação obtusa, obscurantista e de patriotadas dos praças, sargentos e oficiais que segue o mesmo padrão dos tempos do regime militar fascista, especialmente em relação à alta oficialidade moldada pela Escola Superior de Guerra à Doutrina da Segurança Nacional imposta pelo USA.
Com o ar do tempo, estas grotescas ideias semelhantes àquelas que afirmavam que os comunistas “comiam criancinhas” e que “derretiam os velhos para fazer sabão” vão penetrando nas mentes de oficiais e tropas as quais os comandantes tratam pela designação racista e preconceituosa de “mocorongos”. Ora, como qualquer brasileiro, o militar de qualquer arma pode se indignar com a situação do país e, mais ainda, com as injustiças que permeiam a nossa sociedade. Porém, constitui-se um primarismo imperdoável para as forças armadas, mesmo de um Estado semicolonial, albergar alucinações desta natureza, numa demonstração patente de incompetência energúmena nata.
Constitui-se não só uma desinformação, mas um tremendo contrassenso, pra não dizer besteirol, por exemplo, taxar o PT de “comunista” e afirmar que o Foro de São Paulo teria sido criado para a implantação do comunismo na América Latina, quando, na verdade, esta iniciativa teve como propósito exatamente o contrário: desarticular todos os processos de luta armada revolucionária na América Latina e aderir ao princípio revisionista e oportunista de adotar o eleitoralismo e o cretinismo parlamentar (veja o estado moral do congresso nacional) para chegar ao gerenciamento do Estado burguês para tornar “menos selvagem” o capitalismo.
Não precisa ser um marxista sério para saber que as eleições, principalmente nas semicolônias, são uma grande farsa para, alternando gerenciamentos de turno, manter inalterados os interesses do imperialismo e das classes dominantes lacaias. É ou não é isso o que o PT tem feito nos últimos treze anos?
Quais tenentes estão de volta? 711w4b
Bradar, pois, que os tenentes estão de volta requer um complemento para qualificar os que embandeiraram um projeto nacional-democrático e foram derrotados antes de desenvolvê-lo ou os que se especializaram no golpismo a serviço do imperialismo ianque.