Em julho, as polícias Civil e Militar intensificaram o extermínio de pobres nas favelas do Rio de Janeiro. Para legitimar a matança, desde maio o secretário de segurança pública do estado, Roberto Sá, tem recorrido periodicamente ao monopólio dos meios de comunicação para ampliar sua propaganda reacionária de incremento do aparato repressivo da polícia, endurecimento das penas contra os pobres e o intercâmbio de inteligência e tecnologia entre as polícias brasileira, ianque e paraguaia. 2y413l
Doc . JB
Corpos dos jovens (11 a 19 anos) assassinados na Candelária em 1993
— Vamos trabalhar forte com a Polícia Federal, com a Polícia Rodoviária Federal com o DEA [Órgão para o Controle/Combate das Drogas do USA] e com a polícia paraguaia, porque nós entendemos que essa integração é muito importante para minimizar o problema — disse o secretário em evento de inauguração da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme).
Indignação e protesto
Nos meses de junho e julho, conforme noticiado nas edições 191 e 192 de AND, as polícias vitimaram dezenas de pessoas, entre elas Marlene Maria da Conceição, de 76 anos, e sua filha, Ana Cristina Conceição, ambas assassinadas em uma operação da PM no Morro da Mangueira, Zona Norte da cidade, no dia 30/06.
Ellan Lustosa/AND
Familiares de vítimas em manifestação na frente da Candelária, 18/07/2017
Em repúdio à ação criminosa da polícia, moradores bloquearam a Avenida Radial Oeste com barricadas e incendiaram um ônibus no local. Policiais da tropa de choque reprimiram com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha e foram respondidos com pedras, paus e garrafas.
Sucessão de massacres
No dia 10 de julho, mais um massacre. Policiais do BOPE fizeram uma operação na Cidade de Deus, Zona Oeste da cidade, que terminou com duas pessoas mortas e dez pessoas feridas, entre elas uma senhora de 82 anos. Elydia Roberta de Ramos estava no portão de casa, na localidade conhecida como Praça dos Garimpeiros, quando policiais entraram na Cidade de Deus atirando a esmo. Um dos disparos atingiu dona Elydia na perna esquerda.
Os mortos foram identificados como Ygor Pereira de Oliveira, de 19 anos, baleado na localidade conhecida como Quinze; e Luiz Felipe da Silva, de 23 anos, atingido na localidade do Caratê. Assim como os feridos, ambos foram levados para o Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas já chegaram ao local sem vida.
— Moramos aqui desde 1967. Já estamos acostumados com barulho de tiros. Mas foi a primeira vez que uma bala entra na nossa casa. Ainda bem que foi de madrugada. De manhã poderia acertar uma criança — contou o vigia Vando Souza, de 63 anos, cuja casa funciona como uma escola de reforço para crianças da região.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, de um total de 66 pessoas atingidas em operações da polícia no Rio somente esse ano, 95% delas são moradoras de favelas. Foram 1.771 casos de ações policiais que resultaram em tiroteio somente em 2017 segundo o aplicativo Fogo Cruzado. No primeiro trimestre de 2017, o número de homicídios dolosos cresceu 26% em relação ao mesmo período de 2016 e o de mortes decorrentes de operações policiais, 85%. E não para por aí. Segundo o levantamento do ISP, no mesmo período, cresceu 25% o número de jovens menores de 18 anos mortos em operações policiais.
Outro dado divulgado pelo site UOL revela que, entre janeiro de 2016 e março de 2017, ao menos 1.227 foram assassinadas pela PM no estado. Destes mortos, 581 pessoas se definiam como pardas, 368 como negros e 141 brancos. A metade das pessoas assassinadas tinha até 29 anos de idade. 108 pessoas tinha até 18 anos de idade.
E os números acima incluem somente casos registrados em delegacias ou noticiados pelo monopólio dos meios de comunicação. Esse padrão é uma evidência que escancara o caráter de classe da ação policial no Rio, a exemplo do acontece em todo Brasil.
24 anos da Chacina da Candelária
No último dia 21/7, centenas de pessoas se reuniram na Igreja da Candelária, Centro do Rio de Janeiro, e realizaram um ato em frente à igreja que contou com a participação de organizações populares para relembrar os 24 anos do episódio que ficou conhecido como a “Chacina da Candelária”, ocorrida em 23 de julho de 1993. Três dias antes (18/7), um grupo de familiares de vítimas de violência já havia realizado ato no mesmo local em denúncia ao prosseguimento das chacinas nas favelas do Rio.
Em nota publicada em 2011, o jornal A Nova Democracia abordava o assunto relembrando que, na madrugada daquele 23 de julho de 1993, “mais de 70 jovens moradores de rua foram surpreendidos por uma operação de extermínio de policiais militares e civis enquanto dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária.
O resultado da ação policial foi de oito crianças fuziladas covardemente e dezenas feridas. Até hoje não se sabe ao certo o motivo da ação. Existem hipóteses de acerto de contas, simples eliminação ou uma vingança após assalto que, supostamente, um dos jovens teria feito contra a mãe de um policial.
Os jovens assassinado foram: Anderson de Oliveira Pereira, ‘Gambazinho’, Leandro Santos da Conceição, Marcelo Candido de Jesus, Marcos Antonio Alves Silva, Paulo José da Silva, Paulo Roberto de Oliveira e Valdevino Miguel de Almeida.
O adolescente Wagner dos Santos, ferido na ocasião, sofreu um segundo atentado em agosto de 1994 na Central do Brasil, mas sobreviveu. O testemunho de Wagner, junto com as investigações, possibilitaram o indiciamento de pelo menos cinco PMs e um policial civil como responsáveis”.
A Chacina da Candelária obteve ampla repercussão nacional junto com outra que ocorreu pouco tempo depois, no dia 29 de agosto de 1993, em Vigário Geral, onde, segundo denúncias da população, um grupo de extermínio invadiu a favela, arrombou casas e executou vinte e uma pessoas.
Vinte e quatro anos se aram e, de lá para cá, a escalada de repressão contra o povo pobre só aumentou no Brasil e hoje toma corpo como uma guerra civil reacionária desatada pelo velho Estado brasileiro contra as classes populares.
No campo, famílias inteiras de pequenos agricultores são agredidas, saqueadas, torturadas e prosseguem os assassinatos de camponeses em luta pela terra, como foi recentemente em Pau D’Arco, no Pará.
No Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e nas demais capitais, a juventude, principalmente pobre e negra, vem sendo vítima da política de extermínio nas favelas e bairros pobres.
Cabe aos verdadeiros progressistas e revolucionários contrapor esta guerra civil reacionária fazendo aumentar o protesto popular no campo e na cidade, e que esta luta vire uma autêntica Revolução de Nova Democracia para varrer a opressão que se abate contra as massas.