Uma megaoperação policial prendeu injustamente 48 camponeses, incluindo crianças e adolescentes, no município de Cujubim (RO) no dia 17 de julho. Até o fechamento desta edição, 39 camponeses permaneciam presos preventivamente em Ariquemes. A operação ocorreu na fazenda Paraíso a mando do comandante-geral da PM, Ênedy Dias de Araújo, e do gerente estadual Confúcio Moura/PMDB. 5j44n
A operação do velho Estado foi uma retaliação à ocupação da fazenda Paraíso pelos camponeses, ocorrida no dia anterior às prisões. O pretenso proprietário deste latifúndio é José Genaro de Andrade, ex-secretário de finanças de Rondônia. A ação policial contou com a participação de oito viaturas e cerca de 40 policiais fortemente armados da Força Tática e do Grupo de Operações Especiais (GOE) da PM, apoiados pelo helicóptero do Núcleo de Operações Aéreas (NOA).
Os camponeses denunciaram que os policiais já chegaram na fazenda atirando e que agiram de forma agressiva, agredindo e intimidando as famílias. Informações enviadas à redação de AND revelam que os camponeses gravaram a ação violenta da PM, mas os seus celulares foram apreendidos pelos policiais.
O monopólio de imprensa realizou uma odiosa campanha de criminalização e difamação da Liga dos Camponeses Pobres (L) e de seus militantes, taxando-os de “bandidos” e “terroristas”, além de alegarem que a L teria atirado nos policiais.
Em nota, a L de Rondônia e Amazônia Ocidental desmentiu a versão policial veiculada pelo monopólio de imprensa, e denunciou que os camponeses foram atacados. Os fatos comprovam a denúncia da L: ausência de armas apreendidas pelos policiais, de viaturas marcadas com bala ou de imagens que mostrem os camponeses armados desmentem a versão “oficial”.
A alegação de que os camponeses estavam armados baseia-se unicamente no relato do empregado do latifundiário dono das terras, o gerente da fazenda Ilzemar de Araújo Silva, de 35 anos, já que nenhuma arma foi apreendida.
“Todas acusações foram mil vezes requentadas e vomitadas pela imprensa lixo, mentirosa, porta voz da polícia e do latifúndio. Tais acusações são, na verdade, tentativas de atacar a L, imputando crimes, para desmoralizar e isolar o movimento, jogando-o contra a opinião pública, com objetivo de incrementar ainda mais a repressão e os assassinatos”, denunciou na nota a L.
No inquérito policial obtido por AND, a L é citada várias vezes ao longo do documento de 250 páginas, com o intuito de criminalizá-la, tratando-a como uma “organização criminosa”. Bandeiras do Movimento Feminino Popular (MFP) também foram apreendidas e expostas como artefatos criminosos, em um claro ataque político contra os movimentos populares.
Os camponeses presos são acusados de “danos à propriedade particular, roubo e organização criminosa”. As crianças e os adolescentes foram afastados dos seus responsáveis e encaminhados para o Conselho Tutelar.
O juiz Alex Balmant, ao solicitar a prisão preventiva dos 39 camponeses (26 homens e 13 mulheres), demonstrou o caráter de classe do judiciário, defendendo os interesses do latifúndio e alegando a “necessidade de garantia da ordem pública”, pois “a prisão torna-se urgente e necessária, sendo motivo determinante e incentivador a novas invasões e estímulo à impunidade”.
Novamente, a polícia e o judiciário enquadram camponeses em luta pelo direito à terra na “lei de organizações criminosas”, como aconteceu recentemente com ativistas do MST (ver edição 176 de AND). Quando se trata de crimes praticados por latifundiários e seus bandos paramilitares de pistoleiros ou de agentes das forças policiais do velho Estado contra camponeses, indígenas e quilombolas, a polícia e o judiciário pouco ou nada se mobilizam. A grande maioria dos crimes cometidos contra o povo, no campo e na cidade, tem como resultado a impunidade dos mandantes e dos executores.