Pistoleiros e policiais militares (PMs) realizaram uma onda de violentos ataques contra acampamentos camponesas e Terras Indígenas (TIs) no dia 23 de fevereiro, segundo comunicados publicados por vários movimentos entre os dias 23/2 e 24/2.
Os ataques ocorreram de forma pulverizada e não coordenada, mas expressam o nível da violência reacionária oficial e paramilitar imposta aos pobres do campo.
Um dos ataques ocorreu no Tocantins: a Polícia Militar despejou, no dia 23/2 sem ordem judicial, as famílias camponesas do Acampamento Santa Maria, no município de Nova Olinda. As famílias tinham ocupado a terra no dia anterior, depois de 11 anos vivendo em um acampamento em frente à área, uma terra pública da União reivindicada pelos camponeses.
“A operação ilegal, repleta de ameaças e humilhações, e conduzida pelo sargento Hélio, resultou na detenção arbitrária de aproximadamente 16 trabalhadores e trabalhadoras rurais acampados, que até o momento seguem sob custódia, em uma clara violação dos direitos humanos e desrespeito a legalidade.”, denunciou a Comissão Pastoral da Terra (T). Segundo a organização, a PM do Tocantins tem um longo historico “a serviço dos desmandos da grilagem e do latifúndio”.
No mesmo dia, pistoleiros e latifundiários atacaram a retomada Pakurity, em Dourados, Mato Grosso do Sul (MS), segundo denúncia da Aty Guasu.
“O conflito aconeceu em meio à disputa territorial, com grupos ligados a interesses econômicos locais tentando expulsar os indígenas de suas terras ancestrais”, disse o grupo em um comunicado que também relatou a ocorrência de confrontos violentos entre os indígenas e os invasores.
Ainda na noite do domingo, três pistoleiros com o rosto coberto e armados invadiram o Acampamento Egídio Bruneto, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Bom Jesus da Lapa, na Bahia (BA), e atacaram as famílias.
Os invasores chegaram em um carro por volta de 19 horas, atiraram contra os camponeses e incendiaram um dos barracos, de acordo com um comunicado conjunto do MST e do “Voz do Movimento”.
Conflitos em 2025
Os ataques a serviço do latifúndio ocorrem na esteira de outros episódios sangrentos da luta pela terra no País em 2025.
O AND noticiou, desde o início do ano, ataques brutais feitos por pistoleiros e policiais contra indígenas Avá-Guarani do Oeste do Paraná, execuções de camponeses na região do Amacro (zona fronteiriça entre o Amazonas, Acre e Rondônia), o despejo de 135 famílias no Acampamento Marielle Franco, no Piauí e outros casos de pistolagem contra camponeses, indígenas e quilombolas.
Outro caso grave é o do Acampamento Vida Nova, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, que segundo a T está sendo acossado por pistoleiros armados desde o dia 9/2.
Os pistoleiros já destruíram cercas, invadiram o acampamento com um trator, instalaram um contêiner dentro do acampamento e, no dia 14/2, atiraram contra os camponeses e espancaram alguns dos acampados.
A julgar pela frequência de casos violentos no início do ano, é possível dizer que os altos números de conflitos no campo registrados nos últimos anos vão se manter em 2025. Em 2024, oBrasil registrou 1.056 conflitos agrários somente nos primeiro 6 meses do ano, segundo um relatório parcial da T.
As batalhas pela terra cresceram onde o latifúndio (“agronegócio”) mais está se expandindo: na Amazônia Legal, na região fronteiriça entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (chamada de Matopiba) e no Amacro.
Por outro lado, cresce também a resistência. Segundo o mesmo relatório, 48 ações de resistência (ocupações, retomadas e acampamentos) foram feitas em 2024. No mesmo ano, a Liga dos Camponeses Pobres (L) reiterou um chamado feito em 2023, no qual convocou: “os camponeses a armarem as organizações de autodefesa da luta pela terra na mesma proporção e calibre! Conclamamos as lideranças camponesas que não dobraram os joelhos, as lideranças de posseiros, os povos indígenas, as organizações quilombolas, as populações atingidas por barragens, por mineração e por cultivos de eucalipto, as massas proletárias e demais trabalhadores da cidade, que cada vez mais lutam em defesa de seus direitos pisoteados, a cerrar fileiras com nosso bravo campesinato, com o caminho da Revolução Agrária.”